O Suicídio e o Setembro Amarelo
(por Rosario Câmara – 08 de
setembro de 2019)
Em 1994, Mike Emme, de 17 anos,
cometeu suicídio. Mike era um garoto caridoso, gostava de restaurar carros, no
entanto, ninguém percebeu que algo estava errado e que ele não estava tão
satisfeito assim com a sua vida como todos acreditavam. No dia do seu funeral,
os amigos de Mike preparam uma cesta com 500 cartões com fitas amarelas presas
neles e os seguintes dizeres: “Se você precisar, peça ajuda”. Seus pais Dale
Emme e Darlene Emme deram continuidade às ações iniciadas pelos amigos de Mike,
visto que algumas semanas depois os cartões haviam se espalhado pelos Estados
Unidos e as ligações com pedidos de ajuda começaram a aparecer. Acredita-se que
a cor amarela também faça referência ao Mustang Amarelo que Mike havia
restaurado. De qualquer forma, a fita amarela foi escolhida como símbolo do
programa de incentivo para aqueles que possuem pensamentos suicidas buscar
ajuda.
Em 2003, a Organização Mundial de
Saúde instituiu o dia 10 de setembro como o Dia Mundial da Prevenção do
Suicídio. No Brasil, em 2015, o Centro de Valorização da Vida (CVV) e a
Sociedade de Psiquiatria escolheram o mês de Setembro para lançar as campanhas
de Prevenção ao Suicídio.
Falar sobre a morte ou sobre o
desejo de morrer é considerado um tabu. Principalmente na sociedade atual, onde
todos devem estar felizes o tempo todo. Contudo, nossa história é feita dos
contrastes: bom e mau, bonito e feio, alegre e triste, vida e morte. Poder
falar sobre os pensamentos suicidas, sobre a vontade de se machucar ou machucar
outras pessoas cria um espaço entre o pensar e agir que salva vidas. É simples:
podemos pensar sobre o que quisermos, e quando temos outras pessoas para trocar
ideias sobre o assunto, ampliamos o nosso entendimento ou a forma de olhar para
o que se está pensando; quando não, quando permanecemos apenas com os nossos
pensamentos entramos num ciclo de repetição onde, talvez, o novo não chegue e
os pensamentos acabem ficando cada vez mais sombrios e a vida mais difícil de
se viver.
É claro que não podemos falar
tudo para qualquer pessoa. É preciso confiar na pessoa que estará ouvindo sobre
os pensamentos mais íntimos e saber avaliar se ela poderá cuidar do seu
desabafo com zelo e carinho. Seja um familiar, um amigo ou um professor, poder
ter alguém a quem você peça ajuda é essencial. Pois, muitas vezes, aqueles que
estão pensando em cometer suicídio, sentem-se sozinhos, invisíveis e sem valor.
O fenômeno é complexo e multifatorial, mas o que de certeza já sabemos é que
falar ajuda. E poder compartilhar isso com alguém já pode ser uma porta para
que essa pessoa, seja um familiar, um amigo, um professor, mas definitivamente
alguém em que você confie, possa ajudá-lo a encontrar ajuda especializada, com
um psicólogo e/ou um psiquiatra. Nos momentos de crise mais intensa, o CVV
também disponibiliza voluntários capacitados que guardam
sigilo e ajudam as pessoas por meio de chat online, e-mail, ou postos de
atendimentos físicos, ou pelo telefone, basta ligar para o número 188.
Valorizar a vida é poder olhar
para o que é triste, feio e ruim e ainda assim saber que existe o alegre, o
bonito e o bom; que os momentos difíceis passam e que acabar com a vida é
acabar com tudo, inclusive com a oportunidade de viver as coisas boas da vida.
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